domingo, 9 de junho de 2013

O quanto a mudança de etnias atrapalha nas adaptações de quadrinhos?

O1MELHORCAPA
Recentemente, foi anunciado que o ator mais provável para viver Johnny Storm/Tocha Humana no reboot do Quarteto Fantástico é Michael B. Jordan, um jovem e talentoso ator negro que fez um excelente trabalho no filme Poder Sem Limites. Os boatos trouxeram em voga um antigo debate: Mudar a etnia de certos personagens realmente atrapalha em algo?

Sem querer causar polêmicas e deixando claro a posição desse artigo desde o inicio: A Legião dos Heróis abomina todo e qualquer tipo de preconceito.
O que ocorre de fato é que desde que os nossos heróis começaram a sair das páginas dos quadrinhos para ganharem o mundo com filmes milionários os fans se preocupam muito com um elemento essencial: a caracterização dos personagens.  Tudo tem que estar conforme o personagem se apresenta nas histórias, isso inclui personalidade, poderes, uniforme, etnia, até a nacionalidade etc. E quando as coisas não funcionam do jeito que os fans querem, o chiado começa.
Apenas para começar de forma leve, atores como Hugh Jackman e Andrew Garfield foram altamente criticados quando escolhidos para interpretarem Wolverine e Homem-Aranha respectivamente, muito por causa da nacionalidade deles (australiano e britânico), os fans alegavam que o sotaque forte iria marcar o personagem e no caso do Jackman, a altura que era incompatível com a do Carcaju. Apenas americanos poderiam interpretar heróis criados por americanos.
Em 2003, o mundo das adaptações presenciou um evento mais bombástico. Após o sucesso de X-Men Homem-Aranha, a Fox produziu um filme do herói Demolidor. Todos conhecem o filme e o fracasso que ele foi, mas o que realmente surpreendeu foi o vilão: Wilson Fisk tcc Rei do Crime, nemesis do Demolidor e um dos maiores inimigos do Homem-Aranha, conhecidamente caucasiano, foi interpretado por um ator negro, Michael Clark Duncan, famoso por papeis em filmes como Armageddon À Espera de um Milagre. Muito se contestou a escolha na época, apesar do talento de Michael, os fans queriam o Rei do Crime como ele era nos quadrinhos. Após o lançamento do filme, ficou muito claro que a atuação fantástica de Michael deixava sem palavras qualquer um que fosse criticar, sendo que o próprio Rei do Crime foi o ponto alto do filme do herói sem medo.
Após isso, a flexibilidade aumentou. E em uma análise fria, dois fatores devem ser considerados quando houver essa troca de etnia nas adaptações de quadrinhos: Relevância do personagem talento do interprete.
Sobre a relevância, a seguinte pergunta deve ser feita: Esse personagem é tão importante para que absolutamente TUDO seja mantido que nem nos quadrinhos? Obviamente, o Rei do Crime de Michael Clark Duncan é uma exceção a regra, pois o personagem é de alta importância na mitologia do Demolidor e ainda sim deu certo. Mas vejamos o Electro por exemplo, um vilão que, mesmo sendo poderoso, é do segundo ou terceiro escalão de vilões do Homem-Aranha, nunca fez nada de grandioso nos quadrinhos, o fato dele ser BRANCO, NEGRO, AMARELO, LARANJA, ACREANO em uma adaptação realmente irá atrapalhar em algo? Aí que entra o segundo fator: talento do interprete. Jamie Foxx é um ator consagrado, vencedor de Oscar e altamente requisitado, a presença dele em um personagem tão sem sal não tem apenas a acrescentar?
O mesmo preconceito sofreu Idris Elba, que vive Heimdall no filme Thor, só que no caso dele foi pior: Na época do lançamento do filme, o Council of Conservative Citizens (algo como o Conselho dos Cidadãos Conservadores) divulgou uma nota com o seguinte título de “O estúdio Marvel declara guerra à mitologia nórdica” e escreve o seguinte: “A mitologia nórdica é recriada de uma maneira multicultural no filme intitulado Thor. Para o Marvel Studios não é suficiente atacar os valores conservadores e agora deuses mitológicos são reinventados com peles negras. Parece que a Marvel acredita que o povo branco não deve ter nada que é único dela. O filme que será lançado em breve, inspirado nos quadrinhos de Thor, dará a Aesir [deuses de Asgard] uma maquiagem multicultural que é um insulto. Um dos deuses será interpretado por Elba, um DJ de Hip Hop”. Ou seja, um ato claro de racismo, que seria abominável em qualquer circunstância, só que pior, racismo por conta de um personagem que não fica mais que quinze minutos em tela.
Voltando ao primeiro requisito, a relevância de personagens, é certo que alguns, como exemplos já citados aqui, causam pouco ou nenhum incômodo ao terem certos aspectos de suas características modificados. Mas peguemos um personagem mais icônico, de relevância maior dentro do seu próprio universo… como o Tocha Humana, estereotipado desde os anos 60 como um adolescente loiro, caucasiano, mimado, arrogante, piadista entre outros adjetivos… Johnny possui uma irmã. também loira, dos olhos azuis, mãe de filhos, todos loiros, branquinhos, enfim… uma família de heróis que mora no centro de Manhattan e possuem uma importância extraordinária tanto no Universo Marvel quanto em “família”. A mudança de etnia incomoda e com razão aos fans, vejam bem, não é o simples fato de trocar o branco pelo negro, é você mudar o que já se conhece de um personagem icônico, adorado por muitos e uma bagagem imensa de história nas costas.
Do mesmo modo, tenho absoluta certeza que ninguém gostaria de ver um Peter Parker asiático, um Luke Cage branquelo e europeu, um Capitão América canadense, um Pantera Negra não sendo negro, Misty Knight loira entre outros… A bagagem histórica do personagem deve SIM ser levada em conta em qualquer tipo de adaptação, claro, sempre existindo tolerância e respeito, pois o certo é apenas falar de algo após conferir como realmente é, podem existir vários Michael Clark Duncan’s esperando para calar a boca de intolerantes.


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